16.12.09

Porque seu pai...

"Meu pai"? Até onde eu sei, não escolhi qual espermatozóide carregaria metade de mim. Não escolhi nem pai, nem mãe. Colocar "seu pai" numa conversa não é a melhor maneira de falar sobre qualquer coisa. Tudo não pode convergir para o assunto "seu pai".
Não jogue nas minhas costas a responsabilidade por cada molécula de ar que ele respira. Mais uma vez: eu não escolhi meu pai. Não tenho culpa pelo que ele faz (ou não faz, melhor).
Eu não escolhi o seu marido também.
Não sou eu que errei uma vez e pretendo errar tantas outras vezes possíveis.
Posso ter escolhido tantas outras coisas certas e erradas. Mas não escolhi meu pai. Sem que haja qualquer valor afetivo em "pai" aqui escrito.

10.12.09

Cada qual com sua Quimera

Sob um grande céu cinzento, numa grande planície poeirenta, sem caminhos, sem gramados, sem uma urtiga, encontrei vários homens que andavam curvados.

Cada um deles carregava nas costas uma enorme Quimera1, tão pesada quanto um saco de farinha ou de carvão, ou os apetrechos de um soldado da infantaria romana.

Mas a monstruosa besta não era um peso inerte; pelo contrário, envolvia e oprimia o homem com seus músculos elásticos e possantes; grampeava-se com suas duas vastas garras no peito de sua montaria; e sua cabeça fabulosa sobressaía acima da fronte do homem, como um daqueles capacetes horríveis com os quais os antigos guerreiros esperavam acirrar o terror inimigo.

Interroguei um desses homens, e perguntei-lhe aonde iam assim. Respondeu-me que de nada sabia, nem ele, nem os outros, mas que evidentemente iam a algum lugar, já que eram levados por uma invencível necessidade de andar.

Coisa curiosa de se notar: nenhum dos viajantes parecia irritado com a besta feroz pendurada em seu pescoço e colada em suas costas; dir-se-ia que a considerava como fazendo parte de si mesmo. Todos esses rostos cansados e sérios não demonstravam desespero; sob o céu, com os pés mergulhados na poeira de um solo tão desolado quanto este céu, eles caminhavam com fisionomia resignada daqueles que estão condenados a ter sempre esperança.

E o cortejo passou a meu lado e afundou na atmosfera do horizonte, no lugar em que a superfície arredondada do planeta se esquiva à curiosidade do olhar humano.

E, durante alguns instantes, teimei em querer compreender esse mistério; mas em seguida a irresistível indiferença se abateu sobre mim, e me deixou mais duramente oprimido do que eles próprios por suas esmagadoras Quimeras.

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BAUDELAIRE, Charles. "Cada qual com sua Quimera" in: Pequenos Poemas em Prosa (O Spleen de Paris). São Paulo: Hedra, 2009. p. 47

27.11.09

XIX

Se eu soubesse
Teu nome verdadeiro

Te tomaria
Úmida, tênue

E então descansarias.

Se sussurrares
Teu nome secreto
Nos meus caminhos
Entre a vida e o sono

Te prometo, morte,
A vida de um poeta. A minha:
Palavras vivas, fogo, fonte.

Se me tocares,
Amantíssima, branda
Como fui tocada pelos homens

Ao invés de Morte
Te chamo Poesia
Fogo, Fonte, Palavra viva
Sorte.

(Hilda Hilst. Da morte. Odes mínimas.)

12.11.09

Descrição

"É a sazão outonal, em meio ao carnaval da efêmera duração. Inflama-se o rubor das rosas, a tez de sangue vivo das flores adquire maravilhosa cintilação tísica."

A fome, Knut Hamsun. Trad: Carlos Drummond de Andrade.

10.11.09

Costume makes the clown

And I don't always smell like strawberries and cream

But look at how
I'm taking the make-up off my face
Before I forget who I am now

I'm not here to let you down
But the costume makes the clown
It's just life's anatomy
Don't be so hard
Don't be so hard on this
It's your turn now
Your turn now...
To cheat on me

Shakira - Costume Makes the Clown (in: Oral Fixation vol. 2)
http://www.4shared.com/file/35638096/e1a1056f/10_10_Costume_Makes_the_Clown.html?s=1

6.11.09

Tudo faz sentido agora

"Qualquer pessoa minimamente pedante sabe que o grande segredo da inteligência é cultuar tudo que é incompreensível, fingindo que faz sentido."

Polly in http://tedouumdado.com.br visitado em 06/11/2009 às 21h

31.10.09

This Is It

Eu não chorei. Aquele aperto no peito é mais pesado que o choro. Tinha tudo pra ter um final feliz. É o lembrar tudo que poderia ter sido e que não foi.
O ponto maravilhoso desse documentário é a falta de detalhes pessoais: o diretor tinha como pretensão mostrar, sempre mostrar sem contar, todo o trabalho artístico da turnê e, claro, do próprio Michael. Quem procurou assistir ao filme para ver polêmica e fofocas perdeu tempo e dinheiro. Finalmente alguém conseguiu mostrar o quanto MJ era maior que todos os escândalos, maior que a opinião pública. Era, definitivamente, um músico, um bailarino. Um artista. Sabia exatamente o que estava fazendo. Em termos artísticos, claro.


23.10.09

Do conformismo do homem na sociedade de consumo frankfurtiana ou Viva la Revolución

De sorrir por dentro
iluminam-se os céus;
De chorar por dentro
iluminam-se os céus.

Porquanto o respirar atrai outro respirar
e neste o pensamento em nada influi.
Mas do respirar do pensamento,
do chorar e do sorrir,
iluminam-se os céus
ou devora-os a penumbra em trevas.

22.10.09

Er...

Ok, não tenho o que comentar. Ou é demais para a minha capacidade cognitiva, ou coerência não é o ponto forte desse blog.
via: http://tedouumdado.com.br

13.10.09

Liberdade de andar de bermuda por aí.

Às vezes eu acho que o machismo é tão grande e controlador que até o feminismo, o feminino e o femismo se submetem ao poder gramatical e social do masculino.

8.10.09

Continuidade dos Parques

Começara a ler o romance dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou à leitura quando regressava de trem à fazenda; deixava-se interessar lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Nessa tarde, depois de escrever uma carta a seu procurador e discutir com o capataz uma questão de parceria, voltou ao livro na tranqüilidade do escritório que dava para o parque de carvalhos. Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante possibilidade de intromissões, deixou que sua mão esquerda acariciasse , de quando em quando, o veludo verde e se pôs a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a fantasia novelesca absorveu-o quase em seguida. Gozava do prazer meio perverso de se afastar, linha a linha, daquilo que o rodeava, a sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que além dos janelões dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela trágica desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do mato. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara ferida pelo chicotaço de um galho. Ela estancava admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos, o punhal ficava morno junto a seu peito, e debaixo batia a liberdade escondida. Um diálogo envolvente corria pelas páginas como um riacho de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde o começo. Mesmo essas carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo e dissuadi-lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada fora esquecido: impedimentos, azares, possíveis erros. A partir dessa hora, cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O reexame cruel mal se interrompia para que a mão de um acariciasse a face do outro. Começava a anoitecer.

Já sem olhar, ligados firmemente á tarefa que os aguardava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao Norte. Do caminho oposto, ele se voltou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu por sua vez, esquivando-se de árvores e cercas, até distinguir na rósea bruma do crepúsculo a alameda que o levaria à casa. Os cachorros não deviam latir e não latiram. O capataz não estaria àquela hora, e não estava. Pelo sangue galopando em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz dos janelões, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.

CORTAZAR, Julio. Final do jogo.
Trad. Remy Gorja Filho.
Rio de Janeiro, Ed. Expressão e Cultura, 1971.

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(Não, eu ainda não consegui superar...)

29.9.09

Memento mori

Eat
drink
and be merry

For tomorrow you may be
dead.

http://www.4shared.com/file/136363645/252be353/11_MEMENTO_MORI.html

(The Bastard Fairies)

28.9.09

Aula Final

Sacou da mochila puída a arma mortal. Sete balas atigiram-o marcando a carne em arranhões, cortes secos e ensanguentados. A dor infligida ardia no outro, o fogo desconhecido e indomável do Eu tocando com as pontas dos dedos avermelhadas o Eu-outro, negação complementar do Eu-eu.
Ciente, a partir de agora, do não-indivíduoelementar conjunto ao universo irresistivelmente irrestrito, guardou as páginas cortantes manchadas do sangue metafísico.

18.9.09

Sonhos

SEGISMUNDO:
Es verdad; pues reprimamos
esta fiera condición,
esta furia, esta ambición
por si alguna vez soñamos.
Y sí haremos, pues estamos
en mundo tan singular,
que el vivir sólo es soñar;
y la experiencia me enseña
que el hombre que vive sueña
lo que es hasta despertar.
Sueña el rey que es rey, y vive
con este engaño mandando,
disponiendo y gobernando;
y este aplauso que recibe
prestado, en el viento escribe,
y en cenizas le convierte
la muerte (¡desdicha fuerte!);
¡que hay quien intente reinar,
viendo que ha de despertar
en el sueño de la muerte!
Sueña el rico en su riqueza
que más cuidados le ofrece;
sueña el pobre que padece
su miseria y su pobreza;
sueña el que a medrar empieza,
sueña el que afana y pretende,
sueña el que agravia y ofende;
y en el mundo, en conclusión,
todos sueñan lo que son,
aunque ninguno lo entiende.
Yo sueño que estoy aquí
destas prisiones cargado,
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.

("La vida es sueño", Pedro Calderón de La Barca)

6.9.09

Block

Nem ligo. Não faz diferença. Nunca me importei. Não mesmo. Nunquinha. Como se fosse me afetar... Como se eu não soubesse...

- Uma mentira contada muitas, diversas, infinitas, milhares, milhões de vezes torna-se uma verdade.

Nem sempre.

30.7.09

Tédio

Horas em que um espírito artístico o embala. O ócio pode, enfim, torná-lo e tornar-se criativo. E pela última vez um bloqueio, a aversão (talvez ao que é produtivo e que por fim se revelará pouco útil). Ou o medo, puramente. Medo do incompreensível, do indelével e da criatura. Ou a simples carência da criação em um mundo reativo que joga ao seu curriculum a proatividade com tanta segurança de um aperto de mãos firmemente ilusionista como se fosse puxar de seus bolsos um coelho fofucho como de espuma e azul, o diferencial tão buscado do -sejaproativo.
O espírito artístico mais uma vez embala um processo estático que se debate de um lado a outro numa jaula de resistência em busca de um novo processo de livramento. Extático dessa vez.

28.7.09

S. Petersburgo e Leningrado

Comunistas says:
Aqui não pode mexer a bunda de um lado para o outro, vestir-se com frivolidade, dançar numa barra, saudar alegremente as lésbicas. É preciso se vestir com recato, cantar de forma melódica e lembrar as regras morais.


Deve ser conservadorismo tradicionalista pós-gripe suína, não?

21.7.09

Rondó do Cavalo Manco

Minha terra tem Palmas-TO
Onde canta a banda Calypso.
...
Calypsooooooooou!

(Marian featuring Maitê in IEL1 - A angústia)

11.7.09

We're off

Siga a estrada de tijolos amarelos. Siga a estrada de tijolos amarelos.
Siga, siga, siga, siga,
Siga a estrada de tijolos amarelos.
Siga a estrada de tijolos, siga a estrada de tijolos,
Siga a estrada de tijolos amarelos.

Estamos indo ver o mágico, o maravilhoso mágico de Oz
Você descobrirá que ele é o mais sábio entre os sábios! Se é que já houve um sábio algum dia! Se é que realmente houve um sábio algum dia!
O mágico de Oz é único por causa,
por causa, por causa, por causa, por causa, por causa
por causa das coisas maravilhosas que ele faz.

10.7.09

sexta-feira variática chuvosa

é, nós temos coiso ao contrário.
ou vocês têm coisa ao contrário.

e vice-versa.
ou o oposto disso tudo.
só que ao contrário.

9.7.09

Sono

iu onli ci uatior ais uantchuci
rau quen laife bi uatchuanitchubi
iôr frozen uen ior rart is noropen

iôr sou consumed uif rau mãtchi iu guéti
iu ueisti iór taime uif reitchenruigréti
iôr frozen uen ior rart is noropen

mmmmmmmmmmmmm mmmmmmm mmmmmmm mmmmmm

ifai cud mélti iór rart

mmmmmmmmmmmmm mmmmmmm mmmmmmm mmmmmm

uinever bi apart

mmmmmmmmmmmmm mmmmmmm mmmmmmm mmmmmm

guiviorself tchu mi

mmmmmmmmmmmmm mmmmmmm mmmmmmm mmmmmm

iu...rold...dequi

5.7.09

mer girl

and the ground gave way beneath my feet
the earth took me in her arms
leaves covered my face
ants marched across my back
the black sky opened up
blinding me

I ran to the forest
I ran to the trees
I ran and I ran
I was looking for me

and I smelled her burning flesh
her rotting bones
her decay

I ran and I ran
I'm still running away

(madonna. ray of light, #13)

30.6.09

Cor[r]es criançamente

Comprei giz de cera
pra desenhar no muro estrelado
kolodyamente estrela,

e aquele olho-único me verdeamente observa
soprando entredentes tire o negro do corvo;

e muita cola bastão
dez gramas sem toxinas
-perdão pela rima-
para colar meu coração
em pasta catálogo, cinquenta plásticos-folha.

29.6.09

27.6.09

Expiração

Inspira...
...Expira...
...Inspira...
___________
Nossa!
que vontade mágica de comer cogumelos.

Cogumelo says:
Oi.

25.6.09

Cause this is thriller night

And no one saved you from the beast that was about to strike. Meu mundo purpurinado ficou um pouco menos reluzente-brilhoso.


RIP Michael Jackson
(29.08.58 - 25.06.09)

Coisa velha



21.6.09

Xis Dê

XD
o que significa XD
é uma carinha
rindo
sabe, rindo tanto que até fecha os olhos
X esses são os olhos fechados
D esse é o riso
XD

Aforismo

Conocí un hombre interesante: no tenía principios.
Un hombre, un verdadero hombre, no tiene principio ni fin. Como Dios.
(Vicente Huidobro)

14.6.09

Tw1tt4' :0 [2]

Machado de Assis - tinha o sarcasmo como segunda língua. A primeira era sintoma de esquizofrenia. #140

Aquiles chorou. Por doze dias, trégua em respeito ao morto e família. Não se fazem mais assassinos como antigamente. #140

12.6.09

Telefonia fática

-Alô
-Moshi moshi. Alô.
...
-Alô?
-Alô.
-Haruki-san.
...
-Alô?
-Alô.
-Casa de Haruki-san?
...
-Não.
-Obrigado.

10.6.09

30 anos mais tarde.

Aula inaugural

É verdade que na Ilíada não havia tantos heróis como na guerra
[do Paraguai…
Mas eram bem falantes
E todos os seus gestos eram ritmados como num balé
Pela cadência dos metros homéricos.
Fora do ritmo, só há danação.
Fora da poesia, não há salvação.
A poesia é dança e a dança é alegria.
Dança, pois, teu desespero, dança
Tua miséria, teus arrebatamentos,
Teus júbilos
E,
Mesmo que temas imensamente a Deus,
Dança como David diante da Arca da Aliança.
Mesmo que temas imensamente a morte
Dança diante de tua cova.
Tece coroas de rimas…
Enquanto o poema não termina
A rima é como uma esperança
Que eternamente se renova.
A canção, a simples canção, é uma luz dentro da noite.
(Sabem todas as almas perdidas…)
O solene canto é um archote nas trevas.
(Sabem todas as almas perdidas…)
Dança, encantado dominador de monstros,
Tirano das esfinges,
Dança, Poeta.
E sob o aéreo, o implacável, o irresistível ritmo de teus pés,
Deixa rugir o Caos atônito…
(Mario Quintana)

8.6.09

Não por isso...

Adoro escrotisse alheia e auto-apreciação. Mentira. É só engraçado mesmo.
Isso me lembra outra coisa: como minha irmã consegue ser tão igual ao meu pai? Acho que o ódio aflora a partir disso. Não das constatações, mas dos resultados.

28.5.09

A vaca voadora

Muahaha era uma vaca marrom. Uma vaca normal. Nariz de vaca. Boca de vaca. Olho de vaca. Orelha de vaca. Patas de vaca. Asas de avestruz. Seria uma vaca normal, se não tivesse as asas de avestruz. Vivia no pasto, sempre visitava o galinheiro de avestruz. Era uma pobre aberração. Ninguém gostava dela. Podemos dizer que Muahaha era solitária. Só conseguia falar com os cachorros. O único idioma que ela falava era o latido.

Cãin era o melhor amigo de Muahaha. Ele entendia exatamente como era ser uma aberração. Cãin tinha orelhas de coelho. Diferente de Muahaha, Cãin sabia latido, vaquês, avestruzeiro, além de árabe, hebraico, grego, alemão, mandarim e francês.

-Eu quero me livrar dessas malditas e empenadas asas! - Disse Muahaha para o cachorro naquele último dia do oitavo mês do ano.

-Bom, suas asas são melhores que minhas orelhas felizes.

-Você ouve melhor com as orelhas.

-E você pode voar! - Respondeu Cãin.

-Não posso, não. - Disse Muahaha quase chorando - As asas de avestruz não são voantes.

-Que pena.

.-. Como eu era perturbada com 12 anos...

16.5.09

sexta-sábado-domingo

Eu poderia escrever um ensaio gigante sobre o quanto eu odeio fins de semana. Juro. E sobre o quanto minha irmã me irrita. (E nem venham com essas hipocrisias ae de falar que sempre quis ter um irmão, porque "seria uma companhia". Quer companhia "pega o metrô na Sé às 18h" de uma quinta-feira, já dizia o grande mestre Lobinho.)

15.5.09

tw1tt4' :O

Bastava agora livrar-se do corpo, quente e pulsante, se não morto. Ao pé do altar da igreja abandonada: enterrou o pai e tomou a benção.#140

14.5.09

Só pra não dizer...

qu'eu não falei das lontras.


É, efeito das provas. Ou feitas as provas.

22.4.09

Tânat[-Er]os

Se se morre de amor! - Não, não se morre
Se morre, antes, dos dias,
de enfarto, hemorragia,
DST, cirrose hepática,
tuberculose, malária,
desnutrição cancerígena,
o mal do século, bala perdida.

Se se morre de amor! - Não, não se morre
Se morre, antes, da vida:
da morte,
anunciada.

18.4.09

3.4.09

[sem título]

Voava o Condor dizendo
"Melhor era o céu anil
Lá da terra do meu sangue"
Lá palmeiras (mais de mil)
Verdejavam os jardins
Que não via no Brasil

Sabiá olhava torto
Para o pássaro estrangeiro
Queria contar-lhe toda
História do brasileiro,
Desde os antigos indígenas
Que estavam aqui primeiro.

"Ano de 1500
Chegaram as caravelas
E todos os portugueses.
Nossas matas, de tão belas,
Invadidas pelo branco
Hoje não há nada delas.

São Vicente foi fundada:
O princípio da minha terra.
Terra fria e sem cana,
Pr'o progresso a espera.
O regente no Brasil
Descobriu a roxa serra.

Desde então se vê riqueza
Na tal vila rejeitada.
Desigual, nossa cidade
De miséria é cercada,
A São Paulo da garoa
Hoje vive de enxurrada.

Do progresso do café,
Das bandeiras, os primores:
Nossas ruas têm mais gente,
Nosso céu não tem mais cores,
Nossas noites têm mais tiros,
Na Augusta, mais amores."

Sabiá o tendo dito,
Alçou voo, foi pr'exílio.


Trabalho de Literatura do ano passado >D

21.3.09

Desenterrando

Já estamos quase no fim de março, e o que eu fiz até agora? Nada. Quer dizer, um pouco mais que nada. Mas sempre é bom generalizar. Ou não. Então o tempo vai passando, e a gente vai correndo. Correndo cada vez mais rápido em direção à morte, por mais clichê que isso possa parecer, ou ser. Alguns chegam logo, como é o caso do Julião. Outros não. Por enquanto. É como se a vida fosse um signo: um só existe delimitado por outro. Mas eu não estou apta a discorrer sobre o que eu não entendo: vida, morte e Linguística.

28.2.09

É para lá que eu vou

Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.

À ponta do lápis o traço.

Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.

Na ponta dos pés o salto.

Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.

Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.

Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra “tertúlia” e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.

Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.

É para o meu pobre nome que vou.

E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.

À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.

Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.

Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.

Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.

Clarice Lispector
in “Onde estivestes de noite” - 7ª Ed.
Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro - 1994

19.2.09

Documentação

Platonismos, petrarquismos, camonismos.
Usando uma palavra grega "hipopótamo" acima das concepções de verdade museológicas de opinião e epistemopoucomeimporta. Explorar, conservar, proteger, moça, onde é a saída?

4.2.09

euri/

O estudante perfeito, que não desconfiava que era um chato, pensou: qual era a palavra mais difícil que existia? Qual era? Uma que significava adornos, enfeites, atavios? Ah, sim, gregotins. Decorou a palavra para escrevê-la na próxima prova.

(Clarice Lispector, "Onde estivestes de noite")

28.1.09

Misantropia natural

Os ossinhos miúdos tirintam nas mãos, penugem cinzenta, soro salgado de lágrimas e vida que escorre e escapa da agulha, subcutânea salvação. Marca do asfalto cru e inchado saltando da órbita, fundo ao globo, sentidos cortados, queimados curtos sonoros apenas. Fino e agudo clama por tudo ao nada em trépido frêmito. Pureza de alma aquecido por fim ao palpitar do coração ressoa ressona em cegos sonhos.

24.1.09

Bur-legis-lar ou O Processo

Segundo-consta
Artigo n+2
Parágrafo n-1+7n²
Item n!p-2^k
et coetera
et coetera etc.

Segundo-consta
Olhos já não choram

Segundo-consta
Grito não é mudo

Segundo-consta
somoslivres, somoslivros-carta-arquivamento

Segundo-consta
Temosletra-leite-leito

Segundo-consta
Todos-constam.

alo vosse

tenço. hagora eu tenho hum meis pra iscrever de tudu "herrado". reforma ortografika, aham. ah e si eu fikar xata e pedanti, favor me ispancaren, beigos.
modei o nome do blogui. ben mas loki que "existencialirismo".
(nota: pará de moodar o nomi do blogui há cada sês mezes.)

17.1.09

Blindagem

Você está muito bem agora que blindou seu carro. Vejo como você dirije com tranquilidade e firmeza, respeita as faixas, compreende os outros motoristas em suas decisões imediatas. Você para suavemente. Devo te dizer que você está sereno como se estivesse em casa, oferecendo um jantar às pessoas de sua confiança. Você está ótimo! Cara, você realmente está em seu elemento! Esse ar condicionado... esse rádio vazando bossa nova... Você está tranquilíssimo! Parabéns! Não posso deixar de notar que você está assim... e te dizer, é claro! Puxa, como você está bem dentro dessa blindagem!

(Fernando Bonassi, São Paulo/Brasil)

16.1.09

existenciaQUE?

Como o nome desse blog é horrível, pedante, pseudo-intelectual e idiota. Sugestões?

13.1.09

109 kcal

Esticou uma perna, depois outra. Virou-se de bruços. Tentou, não conseguiu. Levantou-se. Desceu até a cozinha. Passou manteiga na cream-cracker, muita manteiga. Gostava quando a matéria amarelada e gordurenta se esvaia pelos furinhos da bolacha.

11.1.09

Reforma ortográfica


Diario de Pernambuco, 08/01/09

6.1.09

Oi-e

Então que acabou a segunda fase e nada de vestibular certamente por um ano e espero que por mais alguns. A sensação de ter terminado as provas deve ser melhor que a de passar *-*
Anyway, eu 'tô na vibe da mendicância: alguém quer me dar óculos iguais aos da Madonna na Sticky & Sweet e da Lolita no cartaz do filme do Kubrick? :D Só oito dólares.