31.10.08

Metalinguagem metalingüisticamente

A função metalinguística se dá quando um texto, verbal ou não, faz referência a ele mesmo.

18.10.08

Claricismo

"Mas é a mim que caberá impedir-me de dar nome à coisa. O nome é um acréscimo, e impede o contato com a coisa. O nome da coisa é um intervalo para a coisa. A vontade do acréscimo é grande - porque a coisa nua é tão tediosa."
A paixão segundo G.H.

12.10.08

A paixão segundo C.L.

Que fique registrado o quanto eu invejo Clarice Lispector.

10.10.08

Cotidiano

“(...)
E quando se cumprir aquele
Instante, que tardando vai,
De eu deixar esta vida, quero

Morrer agarrado com ele.
Talvez me salve. Como – espero –
Minha mãe, minha irmã, meu pai.”
(O Crucifixo, Manuel Bandeira)

Os dedos de Glória correram-lhe pelo colo pálido e agarraram-se ao crucifixo de marfim já amarelado pelo tempo. Única lembrança da mãe. As lágrimas molhavam-lhe a face e os cabelos. O longo casaco encobria o corpo miúdo.

A rua, mais escura ao adentrar a noite, um frio cortante. Bêbados jogados às sarjetas, abandonados pela vida. A verdadeira Roda dos Enjeitados, sem que houvesse viva alma além do muro. Junto ao poste de iluminação, a garota espera. Todos os dias, há cinco anos.

Sorria um sorriso falso de felicidade forçada aos olhares de desprezo e comiseração. Cuspiam-lhe na cara. Puxava o amuleto que pendia ao colo. Beijava-o. As lágrimas voltavam a escorrer-lhe pela face, chegando-lhe aos lábios. Embriagava-se de seu próprio tormento.

Àquela manhã voltou para casa, roupas rasgadas, vergões fundos impressos na fina pele alva.

"O dinheiro."

Os olhos permaneceram fixos no chão. O pai foi tomado pela fúria.

O corpo de Glória jazia, ainda quente, nu, sobre a cama. Na face, marcas negras. Na cabeça, o sangue escorrendo, a marca da estaca de ferro. O cordão marcava-lhe o pescoço, o crucifixo caía ao lado da cama. Um cheiro nauseabundo invadira o quarto. O pai desfez-se das roupas ensangüentadas. Foi ao trabalho.

O jornal daquela tarde trazia a manchete estampada na primeira página: "Prostituta é morta pelo pai". Ou talvez tenha sido uma minúscula nota ao canto da terceira ou quarta página. Ninguém se lembra ao certo.

(isso-aqui-tá-uma-merda-mesmo)

5.10.08

Casa das Rosas

Germina. É broto e cresce
Tão bruto, reluz.
Criação padece
E jaz, só,
Sem luz:
Pó.

(porque a gente não consegue fazer soneto com versos decassílabos/alexandrinos, então faz essas porcarias...)

4.10.08

Olhe

Não que fosse um sonho de infância. Queria ser bombeiro. A pintura surgiu ocasionalmente, em um anúncio no jornal do governo. A arte nunca me havia inspirado admiração, nem ao menos desprezo. Eu entendo, hoje, sua essência.

A carteira é assinada, e o pagamento, insignificante. No entanto a obra, ah...a obra!, esta permanece viva nos destinos e nos caminhos do passante. Em meio à selva de concreto, as luzes piscam freneticamente como guias a apresentar as telas e esculturas de um museu. E os mais velozes param, diariamente, estarrecidos, a observar a arte ante seus olhos.

A obra não é original, é o pós-moderno: nós a resgatamos, dia após dia, universalmente. A Vida, então, vem, invade violentamente os espaços, e o Tempo, sempre soprando, tenta apagar a História. Sou chamado, então a renovo, as cores, os traços, tudo...É a primeira vez. Novamente.

E aquele contraste...! É o grande Tratado da Civilização. O fruto das Revoluções. Da Inglesa, da Francesa, da Industrial. A Amante Futurista, velocidade e progresso. O Positivismo impresso a tinta, em linhas, ordem e progresso. A arte urbana, concisa, precisa, nunca reconhecida, sem prêmios ou menções honrosas. Pintura marginal, expressão de uma cultura civilizada. Exclusão.

Em letras, apenas um conselho amigável: “OLHE”. E então podes atravessar a faixa de pedestres.

(6º lugar no concurso de literatura, sabe lá Deus porque. Eu classificaria como alguma coisa entre péssimo e Paulo Coelho.)

Anedota Búlgara

Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
(Carlos Drummond de Andrade, Alguma Poesia)